Engrossando o fio do rabo do cavalo
A Espada de Dâmocles é uma estória (com “e”, e não com “h”, pois trata-se de ficção) antiga, há registros de seu relato desde 300 a.C., na qual um bajulador chamado Dâmocles dizia que o seu rei era um homem muito afortunado. O Rei então ofereceu-se para trocar de lugar com o bajulador por um dia.
O rei acomodou o bajulador em uma mesa farta, um verdadeiro banquete, servido por belas mulheres em talheres de ouro e prata. Contudo, pendurou sobre a cabeça de Dâmocles uma espada presa ao teto pelo fio do rabo de um cavalo.
Vendo a espada afiada, Dâmocles desistiu de ser tão afortunado, e devolveu o posto ao rei.
Essa anedota serve para várias interpretações, uma muito comum reflete o sentimento das pessoas ansiosas, aquelas que constantemente estão à espera da próxima catástrofe (o rompimento do fio do rabo do cavalo).
A mais comum, no entanto, relaciona-se à visão que alguns possuem, erradamente, de falsos privilegiados. É o caso típico dos que pensam ser o empresário um bon vivant: sem chefe, sem horários, e repleto de dinheiro no banco. Se colocar um ativista desse na cadeira n° 1 de qualquer empresa, está arriscado o sujeito desistir no primeiro telefonema do gerente do banco com a negativa da renovação do capital de giro, estando a folha pendente de pagamento no dia 5.
Nassim Taleb (em “O Antifrágil”) traz ainda outras reflexões. O autor ressalta a importância da força do fio (do cavalo) em comparação com a pompa do banquete; é a síntese do sucesso: a todo momento tem um concorrente querendo lhe derrubar, e no momento que o empresário achar que ganhou a briga, quando ele relaxar e começar a aproveitar o banquete, o fio arrebenta e acaba a brincadeira.
Observamos isso o tempo todo: caso típico de empresas nas quais o dono perdeu o foco em fazer o negócio crescer, e agora quer apenas desfrutar o patrimônio acumulado depois de tanto trabalho. O tempo migra de um afazer para outro, e o fio vai ficando mais fraco.
Há uma história (agora com “h”) parecida no livro da jornalista Cristiane Correia sobre os “3G”, Leman, Sicupira e Telles, fundadores do Banco Garantia. A cultura do banco sempre foi gerar valor, cortar custos, e ganhar dinheiro sem frescura. Na década de 80, época na qual todos usavam terno e gravata, a turma do banco aparecia para trabalhar de calça jeans. Para contratação de novos talentos, buscavam pessoas com o perfil (criado por eles) PSD: poor, smart, deep desire do get rich (em uma tradução livre, “pobres, inteligentes, e com grande vontade de ficarem ricos”).
Os resultados do banco eram invariavelmente reinvestidos, sobretudo na compra de empresas, começando aí a história que todos conhecem e culminou na Ambev, Americanas (apenar dos problemas recentes), Kraft, dentre outras. Muito pouco era distribuído aos diversos sócios. Até que no final da década de 90 os fundadores se afastaram do banco, passaram a cuidar do vasto império empresarial que vinham criando, e os sócios da vez começaram a distribuir os resultados. Foi um tal de comprar cobertura, carro importado, lancha, casa de praia ou de campo etc. Com isso, o foco que era fazer o negócio crescer começou a ser dividido com o tempo necessário para desfrutar de todos esses confortos. Os PSD perderam o P e o D. O fio do rabo do cavalo foi afinando, a performance despencou, e o banco acabou sendo vendido…
Nada contra desfrutar do dinheiro ganho com tanto trabalho, mas o caminho é sempre trabalhar para engrossar o fio do rabo do cavalo.
O foco às vezes se perde por outros motivos: cansaço, desânimo, doença… Por isso precisamos estar sempre medindo a grossura do fio: o concorrente está chegando perto? A espada está mais perto da cabeça dele ou da nossa? O cliente está sendo bem atendido? Os indicadores de performance (KPI) estão sendo acompanhados? A empresa está preparada para as mudanças que se anunciam?
Pensar o negócio nesses termos motiva e ajuda a conduzir a atenção ao que realmente importa.
E para ajudar a engrossar o fio de nossos clientes, a Múltipla Consultoria e a MSA Advogados vão realizar um evento presencial no próximo dia 28 de fevereiro sobre a reforma tributária. Eu estarei lá, e contaremos com a presença do Gilberto Alvarenga, grande advogado tributarista, assessor tributário da CNC e seu representante nos procedimentos para a elaboração da lei de reforma tributária. Será a oportunidade de nossos clientes escutarem e tirarem suas dúvidas com um dos que trabalharam ativamente na preparação do novo ordenamento tributário, o qual começará a impactar as empresas já em 2026.
Vai esperar 2026 para engrossar o fio do rabo do cavalo? O concorrente talvez não espere tanto… Aproveite e se inscreva através dessa página.